ABRIL
Brinca a manhã feliz e descuidada,
como só a manhã pode brincar,
nas curvas longas desta estrada
onde os ciganos passam a cantar.
Abril anda à solta nos pinhais
coroado de rosas e de cio,
e num salto brusco, sem deixar sinais,
rasga o céu azul num assobio.
Surge uma criança de olhos vegetais,
carregados de espanto e de alegria,
e atira pedras às curvas mais distantes
– onde a voz dos ciganos se perdia.
EUGÉNIO DE ANDRADE
In Os
Amantes sem Dinheiro, 1950
CASA NA CHUVA
A
chuva, outra vez a chuva sobre as oliveiras.
Não
sei porque voltou esta tarde
se
minha mãe já se foi embora,
já
não vem à varanda para a ver cair,
já
não levanta os olhos da costura
para
perguntar: Ouves?
Ouço,
mãe, é outra vez a chuva,
a
chuva sobre o teu rosto.
EUGÉNIO
DE ANDRADE
Escrita
da Terra, 1974
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