quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A PRENDA de Pedro Alves



Aproximava-se a quadra natalícia. Matilde não sabia ainda o que comprar para oferecer nesse Natal à sua melhor amiga.
Só este pensamento, qualquer que fosse a prenda escolhida já continha algo que prezava muito – a amizade.
Procurou em tudo o que eram lojas desde centros comerciais ao comércio tradicional. Foi a mercados e feiras. Procurou em catálogos e nas mais diversas lojas virtuais. Nada parecia perfeito.
Essa prenda tinha de demonstrar tudo aquilo que há entre amigos. Tinha de expressar em objecto os sentimentos que nutria espiritualmente. Como quando riam às bandeiras despregadas de tudo e de nada ou se zangavam quase até se odiarem por algo sem importância. Como quando aprendiam e estudavam juntas, a escrever um texto criativo para Língua Portuguesa ou a desenvolver o raciocínio mental numa equação do primeiro grau para a disciplina de Matemática. Tinha de sussurrar segredos como quando falavam ao telemóvel ou faziam poemas sobre os rapazes que achavam ser os seus príncipes, ou como achavam que estas e outras coisas se escondem dos pais sem que eles o percebam.
Estes pensamentos ajudaram-na a chegar à lembrança que podia conter em si muitos dos conteúdos da vida – o amor, o ódio, a alegria, o sofrimento, o conhecimento científico, a história de como chegámos aqui….e tanta…tantas coisas.
E assim chegou-lhe sem mais esforço a ideia da que poderia ser a prenda ideal para aquela sua amiga especial.
Toma! É para ti!
Obrigada, amiga! Eu sei que a tua prenda só pode ser muito especial.
Agradeceu Luísa, emocionada.
Como sabes se nem a abriste?! disse Matilde sorrindo.
Sei, porque às vezes entre amigas nem é preciso dizer muito...
Abraçaram-se.
Luísa desembrulhou cuidadosamente o presente como se tratasse de um frágil cristal. Ficou emocionada segurando-o entre os seus finos dedos.
Era um livro, pois.

Pedro Alves

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