O cante alentejano, um cante coletivo, sem recurso a instrumentos e que incorpora música e poesia, foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Há alguns anos, escrevi estas
palavras, que foram publicadas num disco dos Ganhões, de Castro Verde.
Aqui ficam de novo:
"Quem nasceu no Alentejo tem
o Alentejo dentro de si para sempre. Por isso, o Alentejo é infinito. As
planícies parecem não ter fim porque não têm fim de facto. Dentro da gente,
existem campos com sobreiros e azinheiras, existem rostos enxovalhados pelo
sol, pele que tem as rugas da terra. Dentro da gente, existem searas.
O cante é a voz dessa terra
infinita. Os homens descem pelas ruas quando voltam do campo ao fim da tarde.
Nos olhares, trazem o pó queimado pelo sol. Nessa hora, pouco antes do sol-pôr,
nasce uma aragem nos rostos dos homens. Essa aragem fresca passa pelas pedras
das ruas, pela cal das casas onde houve vida e morte, pelos sorrisos, pelas
crianças que brincam na rua. O cante é essa aragem."
José Luís Peixoto
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