POR TODOS OS CAMINHOS DO MUNDO
A minha
poesia é assim como uma vida que vagueia
pelo mundo,
por todos os
caminhos do mundo,
desencontrados
como os ponteiros de um relógio velho,
que ora tem
um mar de espuma, calmo, como o luar
num jardim noturno,
ora um
deserto que o simum veio modificar,
ora a
miragem de se estar perto do oásis,
ora os pés
cansados, sem forças para além.
Que ninguém
me peça esse andar certo de quem sabe
o rumo e a
hora de o atingir,
a
tranquilidade de quem tem na mão o profetizado
de que a
tempestade não lhe abalará o palácio,
a doçura de
quem nada tem a regatear,
o clamor dos
que nasceram com o sangue a crepitar.
Na minha
vida nem sempre a bússola se atrai ao mesmo
norte.
Que ninguém
me peça nada. Nada.
Deixai-me
com o meu dia que nem sempre é dia,
com a minha
noite que nem sempre é noite
como a alma
quer.
Não sei
caminhos de cor.
Fernando Namora, in Mar
de Sargaços (1940)
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