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quarta-feira, 19 de março de 2014





Ode à bicicleta

Na minha bicicleta de recados
 eu vou pelos caminhos.
 Pedalo nas palavras atravesso as cidades
 bato às portas das casas e vêm homens espantados
 ouvir o meu recado ouvir minha canção.

Na minha bicicleta de recados
 eu vou pelos caminhos.
 Vem gente para a rua a ver a novidade
 como se fosse a chegada
 do João que foi à Índia
 e era o moço mais galante
 que havia nas redondezas.
 Eu não sou o João que foi à Índia
 mas trago todos os soldados que partiram
 e as cartas que não escreveram
 e as saudades que tiveram
 na minha bicicleta de recados
 atravessando a madrugada dos poemas.

Desde o Minho ao Algarve
 eu vou pelos caminhos.
 E vêm homens perguntar se houve milagre
 perguntam pela chuva que já tarda
 perguntam pelos filhos que foram à guerra
 perguntam pelo sol perguntam pela vida
 e vêm homens espantados às janelas
 ouvir o meu recado ouvir minha canção.

Porque eu trago notícias de todos os filhos
 eu trago a chuva e o sol e a promessa dos trigos
 e um cesto carregado de vindima
 eu trago a vida
 na minha bicicleta de recados
 atravessando a madrugada dos poemas.

Manuel Alegre



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Eusébio da Silva Ferreira 
 1942- 2014



Havia nele a máxima tensão
Como um clássico ordenava a própria força
Sabia a contenção e era explosão
Não era só instinto era ciência
Magia e teoria já só prática
Havia nele a arte e a inteligência
Do puro e sua matemática
Buscava o golo mais que golo-
só palavra
Abstração
ponto no espaço
teorema
Despido do supérfluo rematava
E então não era golo -
era poema

Manuel Alegre