Foi proposta uma
atividade de escrita aos alunos do 9ºC e
D. Após terem ouvido uma notícia sobre um sem-abrigo que foi apanhado a roubar
chocolates no valor de 14 euros e 34 cêntimos e uma idosa que tentou roubar um creme de
beleza no valor de 3 euros e 99 cêntimos e tendo sido vítimas de uma justiça
demasiado pesada que envolve custos avultados ao estado, que desafio foi
lançado? Teriam de assumir o papel de um dos arguidos da notícia que tinham
ouvido e redigir uma carta dirigida ao juiz encarregue do processo a pedir a
absolvição da sua pena, apresentando, para isso, argumentos convincentes. Eis a
carta da Maria Beatriz
Carmo.
Manuela da
Silva Monteiro
Rua Tomás
Almeida lote 3, 2.º andar Tribunal de S.Pedro, Lisboa, 21/11/2013
Assunto: Pedido de Absolvição
Exmo. Senhor Juiz do
Tribunal de Lisboa
Na passada quinta-feira, fui apanhada a roubar
um creme antirrugas no Lidl cá da cidade.
Sei que roubar é um
ato condenável, mas na altura não sei bem o que me passou pela cabeça.
Toda a minha vida
gostei de cuidar de mim mesma, mas nasci numa família com fracas condições
económicas. Então nunca pude demonstrar os meus dotes com a estética.
Consegui um emprego
num cabeleireiro, sendo pouco depois despedida. Fiquei a viver à base do que o
banco alimentar me fornecia e os meus dias eram passados na fila da segurança
social. A crise veio a agravar toda a situação e agora só resta esta pequena e
pobre velhota de setenta e três anos, sem filhos ou netos que a possam
sustentar.
Não me consigo lembrar
da razão de ter ido àquele supermercado. Eu, que não tenho poder de compra, que
não tenho senão uns meros trocos na minha carteira. Talvez quisesse relembrar
todo aquele ambiente agitado de pessoas a entrarem e a saírem, do barulho
repetitivo das máquinas e dos carrinhos que desfilam pelos corredores estreitos
dos expositores.
Avancei para a zona
dos cosméticos e regalei os meus olhos naquela beleza. Como eu desejava levar todos
aqueles produtos para casa!... Infelizmente, eu sabia que aquilo não seria
possível e, talvez por isso, eu tenha pegado naquele antirrugas e ao recontar
as moedas que estavam na minha carteira e que não chegavam para o pagar, o
tenha enrolado no meu casaco e tentado fugir com ele.
Era impossível ter
resistido. Provavelmente iria ficar de consciência pesada e devolvê-lo depois
de o experimentar, porque eu não sou uma ladra e jamais permitirei que alguém
me trate como tal.
Eu nunca na vida roubei
nada a ninguém e o furto que cometi não tem razão nenhuma de ir a tribunal. Afinal,
era só um creme barato de marca branca e as despesas que o estado irá ter não
compensariam, pois acabei por devolver o creme sem sequer chegar a utilizá-lo.
Penso que, em vez de
perdermos tempo a discutir o caso de uma idosa que teve uma recaída e roubou um
antirrugas do mais barato que há, o senhor juiz poderia estar a ocupar-se em
tentar prender verdadeiros criminosos que andam por aí à solta.
Sei que cometi um
crime e devo ser punida por tal ato. Então deixo-lhe o pedido de pensar na
possibilidade de me colocar a prestar serviços comunitários.
Na expectativa de uma
resposta favorável ao meu pedido, subscrevo-me, com os melhores cumprimentos.
Manuela Monteiro
Manuela Monteiro
Maria Beatriz Carmo, 9ºD
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