quinta-feira, 18 de setembro de 2014



Um texto que não poderia ficar esquecido, apesar de ter sido redigido no ano letivo transato pela minha querida aluna Carolina André, do 9.ºD. Já está na Escola Secundária, mas não nos esquecemos dela. Eis como ela definiu, no seu estilo tão próprio, a poesia.

Nem todos se atrevem a escrever-me. Devo dizer que sou complicada. Muitos nem tentam perceber-me. Têm almas pequenas.
Não nasci para todos, assim como o sol não nasceu para alguns.
Hoje acordei e decidi pegar num narrador de histórias vazias para me descrever.
Frases pequenas. Versos grandes.
“Devaneios da alma” é como deviam chamar-me.
-Quem és tu? – pergunta aquele que não tem rosto.
-Sou quem sou e sou quem tu gostavas de ser.
Eu atormento qualquer um, porque eu sou a verdade. As minhas metáforas são um pecado e a tinta que corre nas páginas leves torna-as pesadas. Quem tem a capacidade de me perceber é uma alma perdida, visto que vê o mundo sem cortinas.
Eu sou todos os poetas que se suicidaram por me dominarem.
Eu sou a irrequietude e fervor que corre na corrente de cada rochedo de altura humana.
Eu sou a aparente calmaria e a mente em turbilhão.
Eu sou todos aqueles que querem ser poetas, quando na verdade só querem ser poemas.
Eu sou alguém que foi deixado com um marcador de livros algures depois de me virarem as costas.
Eu sou alguém que pensa.
Eu sou alguém que não quer ser lido, mas que quer ser escrito.
Eu sou o buraco negro em qualquer um que sinta demasiado.
Eu sou todas as palavras floreadas que as pessoas que não me compreendem acham que sou.
Eu sou a dor, a morte, a tormenta.
Eu devia ser para quem realmente é.
Eu, eu, eu. Eu sou. Eu não. Eu sou o que não sou. Eu sou tudo o querem que seja. O mundo.
Prefiro papéis espalhados com tinta derramada.
E se nesta altura já sabes quem sou, foge. Pede ajuda a outra alma perdida e nadem até à superfície. Deixem de ser estátuas de movimento.
-Foge. – sussurrei ao ouvido de quem estava mais perto.
-Já me perdi. – respondeu, enquanto os seus joelhos tocaram no chão.
Eu avisei. Quando era tarde de mais, mas avisei.
Que gozo ver a perdição…
Carolina André., 9ºD

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