Obedecem-me
agora muito menos
as
palavras. A propósito
de
nada resmungam, não fazem
caso
do que lhes digo,
não
respeitam a minha idade.
Provavelmente
fartaram-se da rédea,
não
me perdoam
a
mão rigorosa, a indiferença
pelo
fogo-de-artifício.
Eu
gosto delas, nunca tive outra
paixão,
e elas durante muitos anos
também
gostaram de mim: dançavam
à
minha roda quando as encontrava.
Com
elas fazia o lume,
sustentava
os meus dias, mas agora
estão
ariscas, escapam-se por entre
as
mãos, arreganham os dentes
se
tento retê-las. Ou será que
já
só procuro as mais encabritadas?
ANDRADE,
Eugénio de, Poesia, Fundação Eugénio
de Andrade, 2000
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