NÃO À JANELA
DA INDIFERENÇA
Já se sabe que não somos
um povo alegre (um francês aproveitador de rimas fáceis é que inventou aquela
de que «les portugais sont toujours gais»), mas a tristeza de agora, a que
Camões, para não ter de procurar novas palavras, talvez chamasse simplesmente
«apagada e vil», é a de quem se vê sem horizontes, de quem vai suspeitando que
a prosperidade prometida foi um logro e que as aparências dela serão pagas bem
caras num futuro que não vem longe. E as alternativas, onde estão, em que
consistem? Olhando a cara fingidamente satisfeita dos europeus, julgo não serem
previsíveis, tão cedo, alternativas nacionais próprias (torno a dizer: nacionais,
não nacionalistas), e que da crise profunda, crise económica, mas também crise
ética, em que patinhamos, é que poderão, talvez — contentemo-nos com um talvez
—, vir a nascer as necessárias ideias novas, capazes de retomar e integrar a
parte melhor de algumas das antigas…
José
Saramago, in Cadernos de Lanzarote (1994)
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