domingo, 29 de agosto de 2010

em dia de algum aniversário


Pequeno Poema

Quando eu nasci,

ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,

nem o Sol escureceu

nem houve estrelas a mais...

Somente,

esquecida das dores,

a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,

não houve nada de novo

senão eu.

As nuvens não se espantaram,

não enlouqueceu ninguém...

para que o dia fosse enorme,

bastava

toda a ternura que olhava

nos olhos de minha mãe.




SEBASTIÃO DA GAMA

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Há-de flutuar uma cidade




Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade.

Al Berto

este é um fogo que arde e que se vê...


A propósito das árvores que por aí ardem, lembrei-me de "Horto de incêndio", de Al Berto, último livro de poesia publicado. O poeta morreria a 13 de Junho de 1997, no ano da sua publicação.

"A poesia tem-me levado ao despojamento daquilo que é lixo e me atrapalha a vida. Cada vez mais me parece que a poesia é a única linguagem capaz de atingir o rosto de um deus e feri-lo moralmente, nem que fosse por um milésimo de segundo"

Al Berto


In HABLAR/Falar de Poesia,nº1 - 1997

domingo, 1 de agosto de 2010

exibicionismo


exibicionismo

essa vontade
que eu tinha
de nas águas
te perder…
para depois
te pescar
à linha,
com muita
gente a ver.

Luís Pignatelli (1935-1993)