sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A nossa escola também comemorou o Halloween.






A BRUXA

      -  A Emil Farhat

Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto,
estou sozinho na América.

Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
anunciou vida ao meu lado.
Certo não é vida humana,
mas é vida. E sinto a bruxa
presa na zona de luz.

De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto…
Precisava de um amigo,
desses calados, distantes,
que leem verso de Horácio
mas secretamente influem
na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
e a essa hora tardia
como procurar amigo?

E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
que entrasse neste minuto,
recebesse este carinho,
salvasse do aniquilamento
um minuto e um carinho loucos
que tenho para oferecer.

Em dois milhões de habitantes,
quantas mulheres prováveis
interrogam-se no espelho
medindo o tempo perdido
até que venha a manhã
trazer leite, jornal e clama.
Porém a essa hora vazia
como descobrir mulher?

Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras.
Mas se tento comunicar-me
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.

Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
querendo romper a noite
não é simplesmente a bruxa.
É antes a confidência
exalando-se de um homem.


- Carlos Drummond de Andrade, Antologia Poética
HAPPY HALLOWEEN


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Primeiro faz um sorriso suave, em seguida franze a cara, também suavemente… Depois Mia Couto explica o significado dos versos Sou polén sem insecto/abelha sustentando/o sexo das árvores, do livro poético Raíz de Orvalho, primeira obra do autor. Mia Couto tornou-se famoso através de contos e romances e nesta obra, Vagas e Lumes, vai mais uma vez  potencializar a sua poesia.
Vagas e Lumes corresponde a uma obra poética com mais de 200 páginas e divide-se em duas partes: na primeira o autor escreve sobre o mundo e na segunda sobre aspetos do seu íntimo, mais precisamente os amores e as paixões. O livro já se encontra na editora e sabe-se que será publicado em Portugal, Moçambique, Brasil e talvez mais tarde em outros países.
Vagas e Lumes tem duas componentes. Uma sobre aquilo que chamo de vagas, que são os assuntos do mundo, a volta, a vida. E a parte dos Lumes é a parte mais íntima, os amores, as paixões, etc. “
Quanto aos versos da obra mencionada Raíz de Orvalho, Mia diz tratar-se de uma imagem poética. “Isso quer dizer que o mais importante não é o veículo, mas sim aquilo que eu quero transmitir como mensagem. A minha mensagem seria o polén, aquilo que vai fecundar alguma coisa. Pode ser por via da música, versos, escrita ou intervenção cívica. Portanto, o mais importante não é o veículo que quero trazer ali, mas é o próprio .”
Em termos de poesia, o autor conta com Raiz de Orvalho, Cidades e Divindades, Tradutor de Chuvas, e para já, Vagas e Lumes. O “inventor de palavras” reiterou ainda que se está a informar sobre a história de Gungunhane para um romance que há mais de um ano tenciona escrever.
“ Eu sou um leitor muito caótico. Estou a ler várias coisas ao mesmo tempo e a ler muito à volta de fontes históricas do século XIX em Moçambique para compreender o contexto histórico desta personagem (Gungunhane)”.

Nelson Marqueza, in  Vagas


quarta-feira, 29 de outubro de 2014



A VIDA DE UM LIVRO

Acredito que a vida de um livro enquanto está nas mãos do autor não é mais importante do que quando está nas mãos do leitor. O leitor é quase sempre um autor ele próprio. É ele que dá significado às palavras e por isso até acho muito interessante quando as pessoas me vêm apontar coisas que não eram minha intenção, mas que de facto estão lá. E há muitas outras coisas que foram minhas intenções e que nunca ninguém me referiu, e no entanto também lá estão. Se calhar alguém reparou nelas ou ainda vai reparar. Tudo o que um leitor leia num livro é legítimo porque nessa fase o leitor é tudo, é ele que faz o livro.

José Luís Peixoto, in Diário de Notícias (2003)

sábado, 25 de outubro de 2014



DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO


Nos dias 16 e 17 de outubro, as turmas do 6ºano (A, D, E, F e G) deslocaram-se à biblioteca, acompanhados pelos professores de Ciências Naturais. Aí participaram num jogo entre equipas, sobre alimentação. O jogo foi dinamizado pela enfermeira Ana Viegas e pela dietista Laura Martin e, no dia 17, pela higienista Ana Figueiredo.
No dia 16, às 9.20, as turmas do 3ºA, B e C foram ao auditório  ouvir a história "Eu nunca na vida comerei tomate", de Lauren Child, contada pela coordenadora da BE, Isabel Pinheiro. Colaborou na projeção de imagens o aluno João Pires, do 9ºB. No fim, os alunos foram convidados a provar a refeição da Lola e não é que provaram mesmo as "gomas de laranja", os "petiscos oceânicos", as "nuvens" e os "pedaços de lua"?!...







quarta-feira, 22 de outubro de 2014


Hoje Tomei a Decisão de Ser Eu Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilização de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste.
O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.

Fernando Pessoa, “Páginas Íntimas e de Autointerpretação”



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Hoje contaram-me uma história!

 Hoje foi dia de história... contada! A turma do 6ºB teve uma aula especial: foi à Biblioteca Álvaro de Campos  e a Paula e a Alexandra contaram uma história. Além de divertida, a história permitiu uma reflexão partilhada sobre O MEDO. O livro "A coisa que mais dói no mundo", de Paco Liván & Roger Olmos serviu de pretexto...




Numa ida à pesca, a lebre e a hiena conversam: “A mentira é a coisa que mais dói no mundo”, disse a lebre; e a hiena desatou a rir. Para levar a cabo a difícil tarefa de comprová-lo, a lebre irá elaborar, à porta do palácio, um “bolo” muito especial que provocará a cólera do rei; depois vai contar com a cumplicidade das moscas, peritas em ca... calcular e perceber todo o tipo de cheiros, que irão procurar entre todos os animais, o culpado de semelhante obra.
A hipótese que a lebre formula, o que mais dói no mundo é a mentira, é demonstrada através de um relato fantástico e divertido que provoca, para além de gargalhadas, reflexão e uma resposta emocional.


A OBESIDADE INFANTIL E JUVENIL

A obesidade infantil e juvenil aumentou mais no início do séc.XXI.
Segundo os estudos mais recentes da organização mundial de saúde (OMS), de acordo com CE (Comissão Europeia), Portugal está entre os países europeus com maior número de crianças afetadas por esta “doença ”: 29% das crianças portuguesas entre os 2 e 5 anos têm excesso de peso e 12,5% são obesas. Na faixa etária dos 6 aos 8 anos, a prevalência do excesso de peso é de 32% e a da obesidade é de 13,9%. Mais de 90% das crianças portuguesas comem fast-food, doces, bebem sumos mais de que deviam. Menos de 1% das crianças bebem água todos os dias e só 2% comem fruta diariamente. Na minha opinião, isto não é uma alimentação saudável. Acho que, de facto, não têm cuidado com a sua alimentação e também não praticam atividade física.
      A obesidade infantil e juvenil é muito grave.Além de ser uma doença, também pode causar outras doenças como, por exemplo, a diabetes, o colesterol, asma e vários tipos de cancro. Quando chegam à idade escolar, os colegas são cruéis, a ponto de fazerem “bulliyng”. Não devem julgar a pessoa pela sua obesidade,mas tentar ajudá-la. Só quem passa por essa situação é que sabe dar o valor. É muito complicado ser- se obeso, ver os nossos colegas poderem comer de tudo e o obeso não. Para além disso, muitos jovens não aguentam a pressão: alguns automutilam-se, uns suicidam-se e outros sofrem sozinhos. No meu ponto de vista, as escolas deveriam ajudar os pais na luta contra a obesidade e não vender alimentos ricos em açúcar e gorduras. Nos refeitórios, deveria haver uma alimentação mais saudável (sopa, legumes, fruta, água, entre outros …). Assim, todos os obesos e não obesos beneficiavam de  uma alimentação mais saudável.
     Em suma, os que não são obesos também deveriam fazer uma alimentação mais saudável e exercício físico porque também têm a probabilidade de vir a sofrer de qualquer uma destas doenças.
       Mas vamos mudar isso. Devemos tentar, com a ajuda de todos.

                                               Tânia Gago, n-º24, 8.ºE

quarta-feira, 15 de outubro de 2014



Cai chuva do céu cinzento

Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.

Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.

Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

NOVIDADES QUE PODES ENCONTRAR NA NOSSA BIBLIOTECA …E REQUISITAR

Ler um livro é para o bom leitor conhecer a pessoa e o modo de pensar de alguém que lhe é estranho. É procurar compreendê-lo e, sempre que possível, fazer dele um amigo.

Hermann Hesse





quarta-feira, 8 de outubro de 2014

COMEMORAÇÃO DO DIA EUROPEU DO INVESTIGADOR




VISITA DE ESTUDO A OLHÃO
No dia 26 de setembro, duas turmas do 6º ano da Escola Básica D. Manuel I de Tavira foram a Olhão a fim de participar em diversas atividades comemorativas do Dia Europeu do Investigador.
Com partida às 9.15, as turmas do 6º A e 6ºC da Escola Básica D. Manuel I, acompanhadas pelos professores Anabela Miranda, Isabel Sousa e Orlando Almeida, foram ao Ria Shopping de Olhão para comemorar o Dia Europeu do Investigador.
Lá, fizeram as seguintes atividades: jogaram xadrez, fizeram apitos/ buzinas com palhinhas, atiraram tubos com água através da pressão do ar, jogaram jogos de perguntas onde quem acertava recebia prémios, foram a um planetário insuflável, viram cartazes e panfletos que os informavam e alertavam para vários perigos na Natureza, fizeram helicópteros e peões de papel, viram um tubarão embalsamado, dois tapetes com diferentes jogos educativos para crianças pequenas e um outro tapete onde podiam aprender a fazer a reanimação (Suporte Básico de Vida) numa criança e num adulto.
Depois das muitas atividades, foram almoçar nos restaurantes do Ria Shopping. Seguidamente, foram ao parque, ao salão de jogos e ao café para se divertirem e petiscarem mais qualquer coisa.
Às 14 horas voltaram para Tavira.
Texto: Marta Santos, 6ºA

terça-feira, 7 de outubro de 2014

As férias de A a Z, por Manuel Neto - 6ºA



Adorei o peixe que comi, lambi os lábios quando o vi.  
Bebi uma Bmonada, mas prefiro pura limonada.
Carros eu gosto, vi um a bater num poste.
Dei-me ao trabalho de descascar um alho.
Estive com o Guilherme que tinha a cara de um verme.
Falei com o amigo Manel, depois de provar papel.
Guerreei com um amigo meu, até de dor gemeu.
Havia muita trovoada, mesmo ali na minha estrada.
Ia eu a passear alegre, parecia que estavam todos com febre.
Joguei um dia computador, de não me levantar… fiquei com dor.
“Lei são regras que temos de cumprir”, li isso enquanto estava a rir.
Minha prima veio a Portugal, não a vi pois estava no Pinhal.
Nadei, nadei que até me fartei.
O telefone tocava, enquanto eu rimava.
Passeei no jardim com o meu amigo Joaquim.
Que rico homem me ajudou, com a sua bondade até me espantou.
Risadas dei quando um jogo joguei.
Sumol é bom a ouvir um bom som.
Treinei o meu cão com um pão.
Usei uma camisola, enquanto jogava à bola.
Vi cinema até quase me fartar, mas infelizmente tive de parar.
Xilofone não sei tocar, mas tentaram-me ensinar.
Zanguei-me com alguém, só não me lembro com quem.

domingo, 5 de outubro de 2014


Os professores

Texto de Valter Hugo Mãe
Jornal de Letras, 19 Set 2012

       Achei por muito tempo que ia ser professor. Tinha pensado em livros a vida inteira, era-me imperiosa a dedicação a aprender e não guardava dúvidas acerca da importância de ensinar. Lembrava-me de alguns professores como se fossem família ou amores proibidos. Tive uma professora tão bonita e simpática que me serviu de padrão de felicidade absoluta ao menos entre os meus treze e os quinze anos de idade. A escola, como mundo completo, podia ser esse lugar perfeito
... Ver mais de liberdade intelectual, de liberdade superior, onde cada indivíduo se vota a encontrar o seu mais genuíno, honesto, caminho. Os professores são quem ainda pode, por delicado e precioso ofício, tornar-se o caminho das pedras na porcaria de mundo em que o mundo se tem vindo a tornar. Nunca tive exatamente de ensinar ninguém. Orientei uns cursos breves, a muito custo, e tento explicar umas clarividências ao cão que tenho há umas semanas. Sinto-me sempre mais afetivo do que efetivo na passagem do testemunho. Quero muito que o Freud, o meu cão, entenda que estabeleço regras para que tenhamos uma vida melhor, mas não suporto a tristeza dele quando lhe ralho ou o fecho meia hora na marquise.
Sei perfeitamente que não tenho pedagogia, não estudei didática, não sou senão um tipo intuitivo e atabalhoado. Mas sei, e disso não tenho dúvida, que há quem saiba transmitir conhecimentos e que transmitir conhecimentos é como criar de novo aquele que os recebe. Os alunos nascem diante dos professores, uma e outra vez. Surgem de dentro de si mesmos a partir do entusiasmo e das palavras dos professores que os transformam em melhores versões. Quantas vezes me senti outro depois de uma aula brilhante. Punha-me a caminho de casa como se tivesse crescido um palmo inteiro durante cinquenta minutos. Como se fosse muito mais gente. Cheio de um orgulho comovido por haver tantos assuntos incríveis para se discutir e por merecer que alguém os discutisse comigo. Houve um dia, numa aula de história do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente e que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza. Quando me elogiou a resposta, a minha professora contente apenas me premiou a maravilha que era, na verdade, a capacidade de induzir maravilha que ela própria tinha. Estávamos, naquela sala de aula, ao menos nós os dois, felizes. Profundamente felizes. Talvez estas coisas só tenham uma importância nostálgica do tempo da meninice, mas é verdade que quando estive em Florença me doíam os olhos diante das estátuas que vira em reproduções no sétimo ano da escola. E o meu coração galopava como se estivesse a cumprir uma sedução antiga, um amor que começara muito antigamente, se não inteiramente criado por uma professora, sem dúvida que potenciado e acarinhado por uma professora. Todo o amor que nos oferecem ou potenciam é a mais preciosa dádiva possível. Dá-me isto agora porque me ando a convencer de que temos um governo que odeia o seu próprio povo. E porque me parece que perseguir e tomar os professores como má gente é destruir a nossa própria casa. Os professores são extensões óbvias dos pais, dos encarregados pela educação de algum miúdo, e massacrá-los é como pedir que não sejam capazes de cuidar da maravilha que é a meninice dos nossos miúdos. É como pedir que abdiquem de melhorar os nossos miúdos, que é pior do que nos arrancarem telhas da casa, é pior do que perder a casa, é pior do que comer apenas sopa todos os dias. Estragar os nossos miúdos é o fim do mundo. Estragar os professores, e as escolas, que são fundamentais para melhorarem os nossos miúdos, é o fim do mundo. Nas escolas reside a esperança toda de que, um dia, o mundo seja um condomínio de gente bem formada, apaziguada com a sua condição mortal mas esforçada para se transcender no alcance da felicidade. E a felicidade, disso já sabemos todos, não é individual. É obrigatoriamente uma conquista para um coletivo. Porque sozinhos por natureza andam os destituídos de afeto. As escolas não podem ser transformadas em lugares de guerra. Os professores não podem ser reduzidos a burocratas e não são elásticos. Não é indiferente ensinar vinte ou trinta pessoas ao mesmo tempo. Os alunos não podem abdicar da maravilha nem do entusiasmo do conhecimento. E um país que forma os seus cidadãos e depois os exporta sem piedade e por qualquer preço é um país que enlouqueceu. Um país que não se ocupa com a delicada tarefa de educar, não serve para nada.
Está a suicidar-se. Odeia e odeia-se.