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Nas estantes os
livros ficam
(até se dispersarem
ou desfazerem)
enquanto tudo
passa. O pó
acumula-se
e depois de limpo
torna a acumular-se
no cimo das
lombadas.
Quando a cidade está
suja
(obras, carros,
poeiras)
o pó é mais negro e
por vezes
espesso. Os livros
ficam,
valem mais que tudo,
mas apesar do amor
(amor das coisas
mudas
que sussurram)
e do cuidado
doméstico
fica sempre, em
baixo,
do lado oposto à
lombada,
uma pequena marca
negra
do pó nas páginas.
A marca faz parte
dos livros.
Estão marcados. Nós
também.
Pedro Mexia, in "Duplo Império"
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