quarta-feira, 11 de março de 2015

Na toca do coelho



      Alice começava a aborrecer-se de estar ali à beira-rio com a irmã, sem nada para fazer. Olhava duas ou três vezes para o livro da irmã, mas não tinha gravuras nem diálogos: - E de que serve um livro…- pensou ela- se não tem gravuras nem diálogos?
    Já cansada de estar ali, Alice levantou-se e caminhou até à sua árvore preferida: A azinheira.
    Era uma árvore grande com uma copa enorme, talvez a mais frondosa de todas daquele prado imenso.
    Sentada na sombra intensa, Alice deixa-se cair lentamente e adormece.
    No dia seguinte, acordara sobressaltada de um sonho que tivera, mas ainda apanhou um susto maior quando se viu num lugar que não conhecia. Parecia-se com uma toca debaixo da terra: era um sítio pequeno mas muito acolhedor; tinha uma cozinha junto à sala; a mesa era de madeira macia, tal como as cadeiras; havia também uma cama feita de pequenos pedaços de pele  com uma almofada feita de algodão. Ao  fundo havia uma porta e através do vidro se via uma sombra: tinha umas GRANDES orelhas, com um GRANDE  focinho e um GRANDE nariz.
      Alice assustada tenta esconder-se debaixo da cama mas é tarde demais porque e entretanto a porta abre-se e do sol aparece um coelho: um coelho branco e de olhos vermelho brilhante como lava.
 - Bom dia, Alice! – exclamou ele.
Ainda com medo, respondeu:
- Bo-bom dia. Onde estou eu? Quem é você?
O Coelho desatou a rir.
- Não me digas que já te esqueceste de mim?! Só passaram alguns anos! –resmungou.
- Peço imensa desculpa, deve-se ter enganado de pessoa. – desculpou-se Alice.
- Estás a brincar? É que eu agora não estou com paciência para brincadeiras! –disse o Coelho num tom firme.
-Não entendo nada, mas afinal ainda não me disse quem era!
O Coelho perdera a paciência e já num suspiro explicou:
 - Digamos que eu sou um amigo.
- Um amigo meu? - perguntou Alice, sem perceber.
- Sim, um amigo teu.
 Alice estava com esperança que aquilo tudo apenas não passasse de um sonho ou uma espécie de pesadelo.
- E posso saber o seu nome? – questionou ela.
- Sou Aníbal Repolho, mas podes chamar-me apenas Aníbal ou Sr. Coelho.
Ouviu-se um apito: o coelho apressou-se a voltar para a cozinha. Desligou o lume e mencionou que traria a sopa para a mesa. Alice levantou-se e correu para a mesa - obtivera uma estranha confiança no coelho Aníbal Repolho de quem nunca ouvira falar. Subiu para a mesa e olhou a sopa ainda fumegante:
            - Hmm… Tem bom aspeto! É de quê? Cenoura?    
            - Não, é de nabo e abóbora. – esclareceu.
Sentaram-se os dois frente a frente a trocar olhares, sem dizer uma palavra. Depois de comerem e levantarem a mesa, Alice perguntou:
 - Então e o que faço agora?
- Agora vais dormir- sugeriu o Aníbal.
- Mas só há uma cama! – reclamou Alice.
- Tenho um quarto de hóspedes ali ao fundo, mas não sei se quererás dormir lá… É que já há muito tempo que ninguém o usa. – respondeu Aníbal dirigindo-se para o quarto de hóspedes.
 - Que frio que o quarto é! – voltou a reclamar- mas não há lenha para pôr nesta lareira velha? – acrescentou, apontando para o canto do quarto cheio de teias de aranha.
-Tenho ali um pouco, mas não deve chegar para a noite inteira.
- Não faz mal, eu adormeço entretanto. - exclamou ela.
Aníbal tinha ido buscar a lenha enquanto Alice se preparava para dormir.
 Quando voltou com alguns troncos, meteu metade na lareira e a outra metade ao lado, para depois. Acendeu-a e voltou para a sala.
Voltou com algumas mantas dobradas e colocou-as aos pés da cama de Alice:
- Aqui tens algumas mantas. Estas devem chegar! Se tiveres frio estão mais duas no armário ao teu lado. Deixa-me só ir buscar um almofada porque aqui não está nenhuma.
Alice acomodada vestiu uma camisa que encontrara numa das gavetas e fez  a cama. O Sr. Coelho chegou com uma almofada, uma almofada quase desfeita:
- Só encontrei esta, pode parecer desconfortável mas acredita que quando puseres a cabeça nela, nunca mais vais querer acordar.
Alice duvidou, mas pegou na almofada. Colocou-a à cabeceira da cama e ajeitou-a: - E de que serve uma almofada- pensou- se não transmitir conforto?
Depois apareceu o Sr. Coelho com uma história na mão esquerda:
- Como já estás crescida, pensei que não quisesses que lesse uma história, mas agora que penso melhor…as histórias são para todos, por isso…- tossiu a garganta e voltou a falar- Bom… Esta história chama-se “ O Livro de Andrea”, eu costumo lê-la a todos os meus convidados.
- E do que fala? - quis saber Alice.
- Fala sobre um livro que tem sentidos infinitos.
- Ok! Mas veja lá se se despacha que eu estou mesmo cheia de sono. –disse Alice num bocejo.
- Combinado… - respondeu o coelho com um sorriso.
Então lá começou ele a contar a história:
“Era uma vez uma menina chamada Andrea…”
- Tem o nome da minha irmã!- interveio Alice.
    O coelho continuou a ler:
    “ Andrea adorava ler livros. Lia todo o tipo de livros, bem… quase… Só não lia ,aqueles que não tinham gravuras nem diálogos.”
     Alice sobressaltou-se por dentro, só de ter tocado no assunto.
    “Então essa menina odiava livros que não tivessem uma coisa nem outra. Mas um dia, a menina tinha lido todos os livros menos aqueles de que não gostava, por isso decidiu pegar e ler um livro sem gravuras nem diálogos. Quando leu o livro todo, foi dormir. Nesse momento, estava a sonhar com o livro que lera: sonhava com um coelho de todas as cores e laços de todos os tipos, mas que no livro dizia apenas que o coelho er colorido; sonhava também com as cenouras de asas que se plantavam nas nuvens, mas que no livro apenas dizia que se plantavam legumes; ainda imaginava uma menina aos saltos de alegria a cantarolar de felicidade, mas que no livro apenas dizia que estava contente (…)”
     Após mais algumas palavras, o Sr. Coelho Aníbal fechou o livro e despediu-se de Alice, que já dormia.

    Passadas umas horas, Alice acordou no mesmo sítio em que adormecera anteriormente: na azinheira.
- Mas que raio de sonho foi este? Ou será que não foi um sonho? - perguntou-  -se  ela.
Já anoitecia e Alice tivera um dia confuso, por isso voltou a casa, jantou rapidamente e foi-se deitar. A irmã estava ainda a ler o mesmo livro mas logo o acabou e pegou num outro. Foi então que reparou em Alice:
- Onde raio estiveste este tempo todo?
- Adormeci ao pé da azinheira e tive um sonho estranho, muito estranho. –esclareceu Alice.
- Olha, acabei de ler este livro… chama-se “Na toca do coelho” e a personagem principal tem o teu nome!
Alice estranhou a coincidência e não hesitou em perguntar:
- E por acaso, não fala de um coelho chamado Aníbal?
- Acertaste! O livro não diz mas eu acho que o coelho é preto e branco e tem os olhos azuis.
- Eu cá acho que é branco e com olhos vermelhos! – corrigiu.
- Mas tu nem sequer leste o livro!? – interrompeu Andrea.
-Mas se o livro não tem gravuras nem diálogos é para imaginar como se passam as coisas! E eu também imagino que o coelho adora fazer sopa de abóbora e nabo e tem um quarto de hóspedes com uma almofada semi-desfeita!
Andrea fica boquiaberta e pergunta:
- Como sabes tudo isso?
   E olhando para as estrelas pela janela, responde:
- O mundo é mágico!
                                                                                                             ANA AFONSO- 6ºA

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